A Colheita #7

Basta Meter A Bola A Rolar

Tamos de volta máquinas! Maaaaas, devo confessar, com um texto que estava em arquivo, ainda não vou voltar com a carga toda mas pelo menos ao lançar isto já reinicio o processo e obrigo-me a escrever a próxima edição completamente de raiz, conteúdo fresquinho da próxima vez que nos virmos. E sim, o podcast vai voltar, tá quase, quase, quase. Agradecer imenso do fundo do coração a quem me fodeu a cabeça pra lançar, quem me disse que começou a ouvir mesmo aquilo estando parado e confiem, vai voltar.

Relativamente à parte menos interessante desta newsletter-barra-almanaque-digital, eu próprio: novas coisas estão a chegar, coisas velhas foram embora, mudanças positivas, ruturas positivas e uma nova perspectiva que por aqui se forma e de mim se forma também. Seguimos, inconformados por natureza, incomodados se não houver progresso e sempre na esperança de um amanhã melhor.

Uma coisa que queria dizer: gostava de interagir mais com vocês, ter a vossa opinião sobre o projecto, temas que gostariam de me ver explorar e recomendações. Mesmo que só queriam conversar sobre outras cenas que nem tenham nada a ver, portanto, saibam que podem responder a estes mails, podem-me falar no meu IG pessoal, no IG da Colheita, no nosso servidor de Discord ou se forem desse género de gente, apanhem-me na rua, devo-vos essa consideração, e sei que já cansa, mas vou sempre começar estas cenas a agradecer a todos.

Prefácio

Vamos lá à mixórdia de coisas que aconteceram, que pensei, que quero dizer e que consumi desde a última vez:

  • Um gigante descansa em paz ao grande Scarub, membro dos Living Legends, obrigado por toda a música 🙏 

  • Por recomendação do meu grande barbeiro, comprei o Assassin’s Creed Shadows e posso dizer que 90 horas depois, sem dúvida dos jogos que mais gostei nos últimos anos. Obrigado Diogo, e não, ainda não ouvi o novo álbum de Deftones, tá na lista ainda 😃 

  • Lost Soul Aside saiu e como uma das pessoas que está em antecipação desse jogo desde 2016, posso dizer que comprei no dia de lançamento e até agora posso dizer, por mais que o gameplay seja engraçado e me pareça que possa melhorar ainda, é provavelmente a pior escrita que já alguma vez vi num videojogo

  • O Chance The Rapper voltou, apesar de nunca ter bazado e pouca coisa me deixa mais contente do que isso! Grande álbum, humildade depois do falhanço que foi o último, maturidade e uma ponte para o futuro. Esta loja vai sempre, sempre, sempre venerar Chance The Rapper. Nunca duvidei que ele iria conseguir dar a volta, uma das maiores redenções musicais da ultima década.

  • Ao cão filho da grande puta que me tentou morder enquanto eu estava a correr, ficas avisado, a partir de agora somos inimigos mortais, vai ser on sight, prepara-te para o combate 🔪 E podes trazer os teus amigos à vontade, covarde de merda. Remember me 💀 

  • Estou a planear ver a saga inteira de James Bond, apesar de a maioria dos filmes não ser acessível através das plataformas de streaming, portanto vai em modo pirata. Menos mal, aquilo também foi comprado pelo anormal do Bezos portanto é menos uns cêntimos que faz à minha pala.

  • 162 álbuns (provavelmente mais quando esta edição sair) este ano, coisa de loucos eu sei, mas este ano está a ser muito produtivo de música nova, o que me deixa pouco tempo para explorar música antiga que ainda não ouvi, mas também não se pode ter tudo

  • Os Alabama Shakes estão de volta caralho, vamoooooooos!!!

Basta Meter A Bola A Rolar

É muito frequente perguntarem-me porquê ser benfiquista. Para isso tenho zero resposta. Ou melhor, tenho tantas respostas que acabaria por se perder a pergunta. A verdade é que sou benfiquista desde que me lembro e lembro-me de mim desde sempre como Benfiquista. Mais frequente é dizerem-me que não tenho cara de quem liga a futebol, mas nem sei sequer o que isso significa. Também não importa, gosto mais do Benfica do que de futebol. Mas muitas vezes me pergunto, porquê que se gosta tanto de futebol? E porque eu sei que ninguém me quer ouvir falar só do Benfica, vamos falar sobre o futebol como um todo.

Podemos falar sobre futebol e todas as nuances que isso engloba, mas toda essa conversa é infrutífera, por mais ruído que haja á volta do desporto rei, nenhum desse ruído afina no aspecto que importa. Porquê que que gostamos de futebol, porquê que gostamos de uma equipa? Porquê que achamos tão anti-natura uma pessoa que se interessa por futebol mas não se associa a nenhuma equipa?

Antes de tentar sequer explicar o meu ponto de vista, é importante esclarecer uma coisa: o futebol é um desporto corrupto, saturado, instrumentalizado por regimes ditatoriais para promoção turística e política. É também um meio pelo qual se alimenta uma rede nojenta de crime organizado, racismo, xenofobia e neofascismo. Não sou inocente ao ponto de dizer e defender o contrário e mantenho que a FIFA é dos organismos mais nojentos á face da terra. A verdade é que no futebol como na vida, a realidade crua é feia, e cabe-nos a nós, pessoas comuns, criar daí beleza.

Mas o que vemos nós no futebol? Não é certamente só a certeza de ganhar títulos nem a oportunidade de festejar que isso acarreta que nos motiva a todos, caso contrário só haveriam 3 ou 4 clubes por país. Não é o só o sentido de associação também, maior parte dos clubes têm mais adeptos do que sócios e nem todos somos tão fervorosos. Quem joga sonha em ser grande, mas muitos não param, mesmo quando percebem que o sonho não se vai realizar. Mesmo assim, vemos o futebol como um complemento á vida quotidiana.

Também a industria do entretenimento vive e depende do jogo bonito. Hoje em dia é menos comum, eu mesmo apanhei a reta final desse fenómeno, mas durante muitas décadas, inúmeros avanços tecnológicos foram introduzidos ás massas através do futebol. Desde novas técnicas de imagem, gráficos animados que se espalharam a todas as outras áreas de televisão e até mesmo tecnologias médicas de reabilitação, muitas delas criadas com o desporto em mente ou financiadas pelo próprio. Mas também não é por isso que o futebol têm o peso que têm. Aliás, é o oposto, essa importancia vêm do peso emocional que nós permitimos ao futebol.

O futebol move-nos da maneira que nos move porque é uma das poucas áreas da vida atual em que sentimos que é possível, através de esforço coletivo ou rasgos ocasionais de brilhantismo individual, ultrapassar condições desfavoráveis. Mesmo não sendo nós intervenientes. Já todos vivemos casos desses, equipas modestas contra gigantes, com resultados opostos ao que se assume á partida. Crianças de algumas das zonas mais humildes do planeta, catapultadas para o estrelato por um talento que dá uma trabalheira enorme a desenvolver.

Gerações que, aleatoriamente, reuniram em si um grupo de 20 e tal pessoas que, devido a um esforço coletivo durante um torneio de um mês, que acontece a cada 4 anos, escrevem o seu nome na história. Um mês de torneio para uma eternidade de memória. Muitas vezes nem é preciso vencê-lo, basta fazer acreditar que é possível. Refiro-me a 2004 tanto como a 2016. E nunca me vou esquecer de 2006 também.

Ao contrário de outros desportos, a prática de futebol é das mais democráticas. Pouquíssimos desportos de equipa precisam apenas de um terreno plano (que nem precisa de ser assim tão plano), um objeto redondo (que nem precisa de ser assim tão redondo) e um grupo par de pessoas (que nem precisa de ser par sequer). Daí a abundância de talento em todo o mundo, não só na América Latina e na Europa. Acredito firmemente que havendo paixão e capacidade, o trabalho para desenvolver o toque de génio vêm naturalmente. E eu que o diga, que não tenho nem um nem outro.

É daí, acredito eu, que vem o magnetismo do futebol. Dessa democracia. Não é preciso ter um determinado perfil corporal para jogar á bola. Não é preciso ter certo estatudo social para ter acesso á prática desportiva, a necessidade de equipamento é quase nula. E no que toca ao adepto, nem há sequer uma barreira geográfica nem linguistica. Mesmo que o padrão geográfico seja presente e importante, mas isso é mais fruto da nossa necessidade de pertença do que uma regra. Há zero barreiras.

Daí vem o investimento emocional que fazemos nas nossas equipas, o retorno financeiro que daí advêm, raramente para os apoiantes, diga-se. Nesta era em que somos regularmente esgotados pelo peso da atualidade. Entre guerras, impostos e tarifas, genocídios, fascistas e tecnocratas, como não escapar para um panorama de não ficção onde é possivel que David enfrente Golias? Que David vença Golias! Que se ultrapasse tudo e todos, em condições adversas. Por mais improvável que seja! E se já o vimos a acontecer várias vezes, o que impede que aconteça á equipa que escolhemos apoiar? E que muitos de quem gostamos também apoiam, e podem partilhar a alegria dessas vitórias!

Basta meter a bola a rolar.

  • Poderei ser acusado ocasionalmente de inspirar muito do meu trabalho gráfico num híbrido entre o digital e os almanaques que a minha avô tinha em casa quando eu era pequeno, e como tal, é com extremo agrado que reparo que essa estética está a crescer como uma tendência desde meados do ano passado. Aqui fica uma excelente demonstração nesse aspeto. Diferente da minha claro, que aqui não há copias, só tentativas falhadas de ser único

  • Uma viagem ao cenário do já lendário Tiny Desk, pela lente ad Architectural Digest. Se sempre tiveram curiosidade em saber como aquilo era do outro lado da lente, fica aqui.

  • Para os interessados em sapatilhas, primeiro de tudo, os meus pêsames financeiros. Segundo, excelente guia para todos os modelos de Air Jordan diretamente de uma das melhores publicações sobre o assunto.

  • Aproveitem para ver este casal Taiwanês que usa roupa perdida na lavandaria que operam para criar outfits, respeito máximo!

  • A Colheita não é 100% livre de AI, mas é orgulhosamente escrita com recurso a Ignorância Humana. Para vos ajudar a perceber quando estão a ser alimentados uma mistela de inteligência artificial, fica aqui um guia muito útil dos verdadeiros patrões que são os editores da Wikipedia. Alguém mande isto ao pessoal da Sic Notícias.

  • Falo disto muitas vezes, e sei que é uma batalha perdida, mas deixo-vos aqui com mais uma perspectiva sobre o assunto: How We Became Captives Of Social Media, artigo escrito por Mike Mariani

  1. Little Simz, Michael Kiwanuka, Yussef Dayes - Lotus - Mas que absoluto elenco de luxo nesta faixa, Little Simz pode não estar no radar de toda a gente mas quem a tem no radar sabe do que falo. Junta-se a uma das melhores vozes da sua geração e o lendário Yussef Dayes para uma das melhores faixas da sua carreira

  2. thegoodnews., Del The Funky Homosapien - fakebreaker - O Homosapiens mais funky da costa leste surpreendeu-me imenso no seu último registo, para ouvir e adicionar ás vossas playlists.

  3. Bas, The Hics - Everyday Ppl - Provavelmente o disco que mais me surpreendeu este ano, Bas e The Hics dão-nos uma vive que tanto pode ser ouvida de fato de gala como de pijama, um equilíbrio difícil de atingir, mas que aqui nos é apresentado na perfeição

  4. !! - Follow This - Também não sei como se diz o nome desta banda, mas confiem em mim, vale a pena.

  5. Jazz Liberatorz - My Style Is Fly (feat. Fat Lip)

  6. Planet Giza - AT MINES - Vou sempre recomendar Planet Giza, seja em que circunstância for, agradeçam-me depois

  7. Slum Village - Conant Gardens

  8. Azagaia, Guto - Cães de Raça - Um dos maiores clássicos da minha adolescência, esta é daquelas que já ouvi em fones de chineses, colunas JBL de 30 euros, rádios de Ibiza, AirPods proibitivamente caros e aparelhagens HI-FI. Só me faltava ver ao vivo, mas infelizmente o Azagaia já não se encontra entre nós. Obrigado por tudo rei ❤️ 

  9. Beware Jack e Bling Projekt - A Plataforma

  10. Westside Gunn - HEEL CENA - Se uma orquestra de jazz vendesse coca nos esgotos de NY, soaria parcialmente assim.

  11. FBC, ogoin, Linquinho, Nathan Morais, Pepito - O Que nos Impede

  12. Oddisee - Let It Go - Música que têm o mesmo sabor que um abraço

  13. The Internet - Special Affair - Música que soa sensual desta forma, nem sei bem como descrever, vejam por vocês próprios.

  14. Kaytranada, H.E.R. - Intimidated (feat. H.E.R.)

  15. Elzhi - One Love - O Illmatic não está cansado, nem nunca estará, mas esta versão do gigante Elzhi, um dos melhores liricistas de sempre, é refrescante que chegue pra vos aquecer os ouvidos

e como sempre, podem consultar a playlist aqui: