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A Colheita #5 (edição raio-x)
Manual Prático de Uma Vida Com Pouco Sinal - A introdução à desconexão

Como sempre, obrigado pela subscrição 😄 Algumas mudanças n’A Colheita, mas discutiremos isso na próxima edição, desta vez, apenas um texto, a Playlist e o Cabaz virão depois!

Manual Prático de Uma Vida Com Pouco Sinal - A introdução à desconexão
Alertas, notícias, notificações, conversas de grupo, tempo de ecrã, descontos, reels por DM e todas as outras coisas que fazem o ecrã do nosso telemóvel acender.
É, de facto, conveniente ter um portal para outro lado no bolso, ainda por cima com câmara, capacidade de ouvir música, ler, pesquisar e provar aos meus amigos retrógrados que não, os indostânicos que vêm morar para Portugal não recebem um subsídio automático de 900 euros e que o André Ventura estava a mentir quando disse o que disse (😩).
Mas, ultimamente, parece-me que essa ligação constante e instantânea tem sido mais uma maldição do que uma bênção.
Ao longo da nossa caminhada para concentrar todos os aspetos digitais da nossa vida comum, perdemos a capacidade de nos desvincular da mesma, vivendo num pleno de atenção, em que todas as empresas bilionárias às quais confiamos uma vertente da nossa existência digital competem para monopolizar o nosso tempo e o nosso foco.
Se fosse só entre elas que essa luta se desenrolasse, seria na mesma um problema, mas de dimensões completamente diferentes. As armas de captação de foco usadas provaram ser de tal forma eficazes que acabam por roubar o nosso foco da vida real, favorecendo o vácuo que carregamos no bolso.
Todos temos aquele amigo viciado no telemóvel, habituado de tal forma a doses instantâneas e rápidas de dopamina que, mal a conversa perde 1% de energia, volta logo ao retângulo mágico para mais uns segundos de scrolling infrutífero.
Queres garantir que não te tornas nesse amigo? Ou deixar de ser essa pessoa? A Colheita está aqui para ti!
Apresenta-se o Manual Prático de Uma Vida Com Pouco Sinal - A introdução à desconexão, uma lista de 5 conselhos para te desvinculares das redes sociais, valorizares o teu tempo digital e usares ferramentas novas que te vão acrescentar valor.
1 - Desligar as notificações de todas as apps e conversas possíveis
Há aqui nuances. Claro que não é possível desligar todas as notificações do telemóvel — há sempre mensagens importantes ou sensíveis ao tempo a receber — mas há que relativizar.
Aquele grupo de WhatsApp que criaram para uma festa de anos à qual nem queres bem ir é silenciado quase automaticamente, mas e aquele grupo de cusquice do trabalho? Consegues bem passar uns dias sem ir lá, tal como aquele grupo do Instagram que tens com os amigos, que, sejamos sinceros, ultimamente é mais reels que lá metem do que outra coisa. Passa esse grupo para o WhatsApp e vais ver como ele muda de um dia para o outro.
E o mesmo para notificações de apps.
Não precisas de ter as notificações do TikTok ligadas — tu achas que precisas, mas confia em mim, não precisas de todo. Nem do LinkedIn, nem do Threads e muito menos do Twitter. E já que estamos aqui, nem do YouTube. Nem do Discord, nem da Amazon e por aí fora.
Basicamente, reduz ao máximo o número de vezes que o teu telemóvel vibra no bolso.
2 - Notícias é em sites ou num feed de RSS, nunca nas redes sociais
Ok, esta é importante. Sim, o mundo é um lugar infinitamente complexo e as notícias ajudam a ir percebendo aos poucos o quão incrivelmente absurda e paradoxal a existência humana é. Alguns de nós nascem com a invejável capacidade de não querer saber disso para absolutamente nada. Outros, com uma curiosidade algo masoquista de estar a par, de descodificar, perceber e entender.
A cena aqui é: aprender é com informação, e a informação é neutra. E tem camadas. E isso é feito com texto. Não é o TikTok da SIC Notícias ou as manchetes do Expresso no Instagram — isso é feito para criar partilhas e receber comentários negativos para alimentar o algoritmo, logo, perde logo a neutralidade. E nem venham com CMTVs e Now’s, tenham algum respeito próprio.
Então, qual a alternativa?
Tenho duas para vocês, simples de usar, permanentes e simples de criar — apenas requerem um pouco de tempo investido (aproximadamente 10 reels) para dar o setup inicial.
Alternativa 1 – Uma lista de marcadores, no vosso browser de eleição, dos sites de notícias que gostam de consumir (neutros e não sensacionalistas, por favor — o CHEGA não precisa de mais eleitores). Não precisam de ser exclusivamente de notícias sociais, políticas ou económicas — podem ser de qualquer hobby, nicho ou interesse que tenham. Mas é para usar, acreditem em mim: demoram menos tempo a ficar informados, não caem em propaganda falsa das redes sociais e o melhor de tudo: ✨ não há comentários de gente burra ✨

walk it like I talk it
Alternativa 2 – Um feed de RSS, uma prática que remonta aos primórdios da internet e que permite ter todos os sites que consomem, todos os lugares onde procuram informação, centralizados num só lugar e de forma gratuita.
Basicamente, pensem num feed de notícias em que vocês escolhem o que aparece, sem algoritmos, e em que o conteúdo é apresentado conforme vai saindo, sem likes nem comentários nem nada que se pareça. Uma das maiores vantagens, além da facilidade de uso, é também que a maioria dos leitores de RSS bloqueia automaticamente os anúncios. Abaixo o capitalismo 🥰
Aprendam como criar o vosso feed de RSS neste vídeo. Se precisarem de ajuda, sintam-se à vontade para me mandar uma DM. Sou é capaz de demorar um bocado a responder — tenho as notificações desligadas 😂.
3 - Limitar tudo a seu tempo, com horas marcadas
Ok, eu sei que nem todos temos o dom do tempo, e para alguns é difícil organizar as horas, mas no que toca a consumir conteúdo, tentar ser o mais organizado possível é a chave.
A questão do tempo é mais uma questão de o que fazer com o tempo do que quanto tempo se gasta.
Pessoalmente, a minha escolha é ter tempo alocado para diferentes tarefas: ler notícias de manhã, enquanto tomo o pequeno-almoço (café, quero eu dizer, que eu não tomo o pequeno-almoço), reels é ao fim do dia, ler antes de ir dormir, YouTube antes do jantar e uma hora por dia com a internet do telemóvel desligada.
Claro, nada é assim linear e não é para seguir religiosamente, mas organizar assim ajuda a recuperar o controlo do tempo que o telemóvel conquistou.
4 - Escrever, ou pegar num livro de vez em quando, car#%&o!
Para quê que vais estar numa fila de espera ou num parque a ler o milésimo update sobre a transferência do Gyokeres para o Arsenal (vai pela sombra) ou um ensaio sobre o processo dos Anjos à Joana Marques (muito cuidado com o acne!) quando podes estar a farmar aura a ler um grande livro ou a escrever sobre o que te apetece?
Ler e escrever são curas para o under e o overthinking, respetivamente, e dão-te alternativas ao entretenimento fútil desses reels e conteúdos do género. Permitem-te explorar novas perspetivas e viajar para outros lugares.
É também uma forma mais lenta e sustentada de aprender, relaxa imenso e torna-te mais interessante.
E isso, num mundo com demasiadas pessoas básicas, é sempre uma vantagem. Preferencialmente, livros físicos, mas se tiver que ser digital e tiverem essa disponibilidade, um Kindle ou um tablet também serve perfeitamente — é só fazer uso da dica seguinte.
5 - Fazer uso dos modos de concentração
Por autorregulamentação de mercado face à exigência do consumidor e por bondade dos nossos líderes supremos tecnológicos, os nossos telemóveis têm modos de concentração, modo de repouso e modo noturno, que bloqueiam certas notificações e podem ser adaptados para corresponder às nossas necessidades.
Um modo de trabalho que apenas me dá notificações de mensagens da minha família e amigos mais próximos, outro de repouso que bloqueia as notificações todas menos as chamadas, um para gravar o podcast que bloqueia tudo (usei quatro vezes só) — há de tudo.
O objetivo é distanciar o uso do telemóvel de situações do quotidiano, calibrando pouco a pouco a nossa relação com o acima referido telemóvel (já disse “telemóvel” onze vezes neste texto, doze agora…), retirando-lhe o poder de interrupção e deixando de recorrer a ele mesmo como ferramenta de quebra do aborrecimento.
Adicionalmente, algumas sugestões extra: recomendo um detox de redes sociais — umas semanas ou um mês aqui e ali — ajuda imenso a regressar com uma perspetiva nova sobre as mesmas e, quando derem por ela, já as usam menos do que antes.
E recomendo também espalharem A Colheita aos vossos amigos e família — mas isso deixo ao vosso critério 😄