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A Colheita #2.5 - adenda suplementar

À luz da liberdade, como podemos voltar atrás?

O meu avô partiu para França em meados dos anos 50, como muitos portugueses, para trabalhar rumo a uma vida melhor.
Partiu, como muitos, de um país que não era livre, para um que era livre.

E conseguiu uma vida melhor, efetivamente. E voltou para Portugal, desta vez um Portugal livre, já depois de Abril. E conseguiu aqui uma vida melhor que a que era possível antes, mesmo por causa disso. O país geograficamente era o mesmo, mas havia aqui um país maior, um país livre.

Esse é o valor de Abril, o nosso jardim ficou maior. Mais colorido, mais diferente, mais aberto. E floresceu, como todos, à luz da liberdade.
E agora, querem que isso fique em causa. Escrevo isto, obviamente à luz dos resultados das legislativas, completamente enojado pelo estado das coisas.

Estivemos perigosamente perto de eleger um partido fascista para governar o nosso jardim. Esse bicho canceroso que caminha entre os cravos de Abril é agora representante de um quarto de quem nos rodeia. Um mar de gente que não vê o ódio a olhos abertos, o interesse deliberado em desinformar, em incentivar a raiva, em fechar a porta á evolução da liberdade pessoal.

E porquê que isso me chateia?

Liberdade é visão, é a capacidade de ver o que nos é apresentado, e fazendo uso da verdade, tomar uma decisão deliberada e sem juízo. Mas há aqui uma palavra chave, verdade. Pelo bem e pelo mal, a verdade é que nos governa, pelo menos como pessoas. Em Portugal, há uma certeza política apenas: eles são todos uns gatunos e não fazem nada.

Disso, discordo pouco e pouco duvido que seja verdade, sou neto de quem dizia isso, filho de quem diz isso, irmão de quem cada vez mais diz isso e não me parece a mim que seja mentira. Mas há um elemento que não podemos esquecer, acima de tudo, e apesar desses gatunos serem isso mesmo, não os deixávamos esconder da verdade. Eles efetivamente pouco ou nada faziam.

Mas agora, deixa-me perplexo que como país, um quarto de nós se deixe enganar.
Nós sabemos que é mais do mesmo, mas traz algo de novo consigo. Traz o ódio e a desinformação. Traz o racismo e a xenofobia consigo. Dá carta branca aos piores instintos humanos e sociais desse eleitorado. Traz a ameaça do fim do estado social, aquilo que o estado deve verdadeiramente ser, um orgão de preservação da soberania e da liberdade pessoal e um mecanismo de apoio aos mais fracos, e isso está agora em sério risco.

Nunca tivemos o privilégio de o ver a cumprir esse desígnio, mas agora estamos mais longe que alguma vez estivemos durante o meu tempo de vida. Enoja-me ver o mundo a caminhar para esse lado, não me revejo nesse ódio, nessa escolha.
Mais confuso me deixa ainda que numa era de tanto conflito e de tanta incerteza, demos o benefício da dúvida ao partido mais racista, mais incendiário e mais fascista dos tempos recentes.

A esses não se dá tanto o rótulo de não fazerem nada. Falam mais que os outros. Falam mais alto que os outros. Só dizem merda e no fim de contas não fazem nada.
Mas a esses damos o benefício da dúvida? A esses que se enchem de pedófilos e ladrões, que interrompem e vociferam, que quiserem
Nah, não contem comigo para isso.

Vou sempre seguir o caminho que me der mais liberdade, vou sempre voar em direção á liberdade, e sei que não estou sozinho. Sei que este país vai voar sempre na direção da liberdade. Mesmo que o pior aconteça e que se viagem 50 anos no passado, eventualmente iremos voltar a ser livres.

O nosso estado normal, como ser, é a liberdade, porque só se pode ser uma coisa, livre. Menos que isso e nada somos. E vamos sempre, sempre lutar essa guerra. Mas hoje perdemos. Nada nem ninguém se dará como perdido quando o prémio é a capacidade de sermos nós próprios, à luz da verdade e sem julgamento.

Mas essa nuvem escura que se aumenta cada vez mais no nosso jardim hoje ganhou mais uma vez, e todos nós somos menos livres por causa disso. Que a nossa derrota nos fortaleça e a nossa luta continue, como tem continuado sempre, constante, até que todos nós sejamos livres de ser livres, à luz da verdade.

Que aqueles que se deixaram envolver na escuridão do fascismo consigam perceber a tempo a dimensão do seu erro. Que desta vez a história não se repita e não se comprometa a luta de pessoas como o meu avô, e de tantos avôs nossos, que fugiram do escuro do fascismo e voltaram, atraídos pelo brilho de serem livres.

Não nos vão apagar a luz, nunca mais.

DIZ QUE DISSE MAS EU NÃO TIVE TEMPO DE FAZER O GRÁFICO PORTANTO VAI EM TEXTO APENAS

“A democracia pode ter muitos defeitos, mas ainda não encontramos nada melhor”
- Winston Churchill